Ponta de São Lourenço - Madeira
Informação recolhida:
in Parque Natural da Madeira
A Ponta de São Lourenço, deve o seu nome ao próprio nome da nau de Gonçalves Zarco. Este descobridor, ao aproximar-se daquele local pela primeira vez, lobrigou terra a irromper da névoa densa que encobria a ilha e trazia aterrados todos os mareantes, e não pôde conter o seu entusiasmo gritando à nau do seu comando: “Ó São Lourenço, chega!”.
Esta é a península mais oriental da ilha da Madeira com cerca de 9 Km de comprimento e uma largura máxima de 2 Km, englobando os 2 ilhéus que se encontram no seu seguimento – o ilhéu da Cevada da Metade ou do Desembarcadouro e o ilhéu da Ponta de São Lourenço, do Farol ou de Fora.
Entra mar adentro, numa sucessão de cabeços, atingindo num destes, por detrás da baía D’Abra, a maior altitude de 180 m.
Esta baía, localizada na costa Sul, é, de todas as pequenas enseadas da Madeira, a mais ampla e de maior reentrância, formando um bom ancoradouro.
Com o intuito de preservar a sua fauna, flora e o seu património geológico, aquando da criação do Parque Natural da Madeira, em 1982, a Ponta de São Lourenço e o Ilhéu do Desembarcadouro foram incluídos como Reserva Parcial e Integral, respectivamente, através do D.R. Nº 14/82/M, de 10/11/82.
Recentemente, o serviço do PNM adquiriu os terrenos que compõem a Ponta de São Lourenço, a partir do denominado Paredão da Baía D'Abra incluindo a Casa do Sardinha localizada no extremo Este da península, que recuperou para funcionar como posto de vigilância e apoio à Educação Ambiental.
VEGETAÇÃO
A vegetação da Ponta de São Lourenço é especial e única dentro da Macaronésia, não porque esteja inalterada, mas pela presença de importantes grupos de endemismos locais que estão virtualmente confinados à dita área.
A vegetação é basicamente constituída por matorral xerofítico do litoral, mas muito degradado, cuja forma mais rica provavelmente pode ser observada nas áreas de menor utilização pelo gado que em tempos ali existiu. No Ilhéu do Desembarcadouro, esta vegetação é composta, sobretudo, por exemplares de Lotus glaucus, outrora formando grandes e densas manchas que chegaram a ser utilizadas como forragem em Machico.
Existem outras plantas com alguma importância como Mesembryanthemum crystallinum, M. nodiflorum, Bassia tomentosa e Crithmum maritimum. Com alguma raridade temos a Frankenia laevis, Silene vulgaris marítima, Silene behen, Astragalus solandri, Suaeda vera e Calendula maderensis.
O Ilhéu do Desembarcadouro guarda ainda alguns endemismos muito importantes geneticamente como Phalaris maderensis e Beta patula, bem como outros endemismos raros como o Crepis divaricata var. robusta, Plantago coronopus var. pseudo-macrorrhiza, Crambe fruticosa, o Rumex bucephalophorus e ainda alguns arbustos de Suaeda vera.
Fauna
A fauna existente na zona inclui aves, alguns insectos e o coelho bravo. Admite-se também a presença de um molusco terrestre endémico, Geomitra moniziana. São Lourenço apresenta condições, dadas as características da sua costa Norte (grande número de grutas com praias interiores e uma reduzida presença humana), para a ocorrência do Lobo marinho, animal, avistado pontualmente nesta área.
Em relação às aves, o sítio assume grande importância para a nidificação de aves marinhas, como a Cagarra, o Roque de Castro e a Alma Negra. No Ilhéu do Desembarcadouro nidifica uma das maiores colónias de gaivotas da região. No ano de 1998 foi observada uma colónia de Garajaus de grande dimensão que nidificou na área da Ponta do Furado.
Em relação às aves terrestres, encontram-se frequentemente o Corre-caminhos, o Pintassilgo, o Canário da Terra, a Perdiz, a Codorniz, o Pombo das Rochas e diversas rapinas (Francelho, Manta e Coruja).
GEOLOGIA / GEOMORFOLOGIA
A constituição geológica desta região difere da do resto da ilha; há ali, ainda, alguns morros vulcânicos de origem recente formados por cinzas e areões, existindo em abundância formações calcário-arenosas (I.Hidrográfico, 1979).
A costa é, de um modo geral, constituída por uma arriba rochosa que cai a pique sobre o mar, sendo muito elevada e inacessível, principalmente a Norte, com várias enseadas de calhau e grutas.
A nível marinho, é uma zona bastante influenciada pelas correntes e ventos que se fazem sentir, o que determina estados de mar bastante diferentes na costa Norte e na costa Sul (I.H., 1979).
A costa Norte é inteiramente desprotegida dos ventos dominantes (Norte e Nordeste com uma frequência de 90%), existindo uma forte vaga com grande ondulação, que torna o acesso a este local bastante difícil devido à rebentação junto à costa (levadia). A costa Sul pelo contrário, encontra-se protegida dos ventos, sendo fácil a navegação.
A abrasão marinha actua com maior intensidade no bordo norte e a área referida está inserida no complexo vulcânico de base (Miocénico-Pliocénico), constituído por depósitos de materiais piroclásticos de tons avermelhados, amarelados e acinzentados intercalados por derrames de lava basáltica, em geral muito alterada.
Neste complexo, cortado por uma densa rede filoniana de rochas basálticas, ainda é possível observar dois cones vulcânicos de formação recente, os denominados aparelhos do Cabeço da Cancela (159 m) e de Nossa Senhora da Piedade (64 m), encontrando-se no último uma capela a que foi atribuído o mesmo nome.
No sítio da Prainha existe uma cobertura de material arenoso, muito bem representada, com concreções calcárias, que a maioria dos autores tem interpretado como acumulação dunar de idade plio-plistocénica .
As areias de São Lourenço são acumulações eólicas formadas por dois tipos de detritos arenosos: inorgânicos e detritos de origem orgânica, ou bioclastos. A percentagem relativa destes tipos de materiais (areias basálticas e areias calcárias), determina tonalidades de claro-escuro diferentes segundo zonas de deposição, observáveis no interior do corpo arenoso, relacionadas em geral com acções de selecção gravítica durante o transporte eólico. Estas areias são, via de regra, finas e muito bem calibradas com evidentes traços de abrasão marinha e eólica.
A origem marinha destas areias, idênticas às dos eolianitos de Porto Santo, é suficientemente confirmada pela existência dos detritos orgânicos referidos atrás, e a sua acumulação subaérea é comprovada não só pela estrutura do depósito, como também pela presença significativa de fósseis de gastrópodes terrestres (pulmonados) que encerram, cujas espécies foram descritas por WOLLASTON, em 1878.
Estas areias foram paralelizadas com os tufos vulcânicos com vegetais fósseis do vale da ribeira de São Jorge, no seio do chamado complexo vulcânico periférico, plio-pleistocénio (entre 5,2 e 0,7 ma). Sendo uma atribuição de idade possível, não é, contudo, a única nem sequer a mais provável. O paralelismo com formações semelhantes na ilha do Porto Santo e nas Selvagens leva a considerá-las um pouco mais recentes (Galopim de Carvalho,...).
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