terça-feira, maio 23, 2006

Cabo Girão

Com uma altura de 580 metros é o segundo cabo mais alto do Mundo, capaz de o presentear com vistas espantosas sobre o concelho do Funchal. Simplesmente deslumbrante…

A origem do nome
Denominação de Cabo Girão dada por João Gonçalves Zarco e seus companheiros de descoberta a este rochedo tem a ver com o facto dele ter servido de ponto de referência como fim do giro no primeiro dia de reconhecimento da costa marítima da Madeira. Com efeito, de acordo com o Livro Segundo das Saudades da Terra [...]lhe deram o nome de Cabo Girão por ser daquela vez a derradeira parte e Caboco giro de seu caminho.

Interesse e projectos turísticos
O Cabo Girão é um dos pontos mais importantes do circuito turístico madeirense, sendo por esse facto um ponto obrigatório de paragem para todos quantos visitam a ilha da Madeira.
Reflexo do seu interesse turístico está o facto da Secretaria Regional do Turismo o ter dotado, em 1984, de uma infra-estrutura de apoio composta de sanitários, lojas para venda de artigos regionais e bar.

Apesar da sua inauguração ter ocorrido no dia 30 de Setembro de 1984, só a 21 de Junho de 1985 é que entrou em funcionamento mediante contrato de exploração feito com uma entidade privada. Deste projecto fazia também inicialmente parte a construção de um restaurante e zona de lazer, obras que no entanto nunca foram levadas a efeito e provavelmente nunca o serão! Para além deste projecto, outras iniciativas de interesse turístico, infelizmente não concretizadas estiveram também previstas para esta localidade.

Nas proximidades do miradouro do Cabo Girão, mas já na parte pertencente à freguesia de Câmara de Lobos, esteve projectada em 1990 a construção de uma infra-estrutura denominada de conjunto urbanístico do Cabo Girão composta de um conjunto habitacional e de um núcleo turístico, núcleo este do qual fazia parte um apart-hotel com capacidade para 100 camas. Tendo dado entrada na Câmara a 7 de Março de 1990, problemas vários inviabilizariam o projecto, acabando parte do terreno por ser vendido à empresa vinícola Madeira Wine para aí construir o seu armazém.

Ainda que em 1994 tivesse sido elaborado e apresentado na Câmara Municipal de Câmara de Lobos o respectivo projecto, opções de natureza empresarial motivariam o abandono da ideia de construção do empreendimento em causa. Para além destes projectos de características e objectivos diferentes, mas com importância no desenvolvimento turístico do local haverá ainda a referir a existência de um outro, sem dúvida o de maior impacto e arrojo, verificado no início da década de 70. Para além da construção de uma unidade hoteleira estava prevista a construção de um gigantesco elevador de acesso ao mar, tendo chegado a ser para o efeito adquiridos terrenos.

Ainda que raramente citado como ponto de interesse turístico não poderemos deixar de referir o cume do pico do Galo sobranceiro ao miradouro do Cabo Girão, onde se ergue uma capela com a invocação de Nossa Senhora de Fátima e donde, no dizer do seu fundador se avistam 18 freguesias, sendo 11 nos concelhos de Funchal e Câmara de Lobos e as outras 7 nos de Ribeira Brava, Ponta do Sol e Calheta. Aliás a esta capacidade panorâmica não estará alheio o facto de ser este um lugar escolhido para instalação de diversos retransmissores de telecomunicações.

A história de um telefone
Curiosamente o interesse turístico do Cabo Girão foi o motivo que serviu de base a uma importante reivindicação da população da Quinta Grande, ou seja, a instalação de um telefone público na freguesia. Com efeito, em 1930 o Diário da Madeira na sua edição de 11 de Setembro refere que por mais de uma vez já havia sido reclamada a instalação de um telefone na Cruz da Caldeira no então magnífico estabelecimento de mercearia A Higiénica, situada junto ao início do acesso para o Cabo Girão, onde aliás funcionava já a caixa postal e cujo proprietário também tinha conhecimento em línguas. Como justificação para tal pretensão apontava-se não só o isolamento da freguesia, mas fundamentalmente a procura do telefone tanto por nacionais como estrangeiros nas suas visitas ao Cabo Girão.

Apesar de tudo, nem a intervenção dos correspondentes dos vários jornais, nem da Câmara Municipal que em Setembro de 1931 pede a colocação de um telefone no Curral das Freiras e de outro na Quinta Grande, nem ainda a cunha que o padre António Rodrigues Ferreira mete, em 1950 ao Ministro das Obras Públicas de visita à Madeira, dão resultado, uma vez que o telefone só chega a esta freguesia a 23 de Junho de 1954.

A extracção de cantaria

Para além do seu valor turístico, o Cabo Girão tem o seu nome associado à extracção de cantaria mole, o que se faz desde os primórdios do povoamento da Madeira, numa área que engloba a base de quase toda a sua escarpa. A utilização da cantaria do Cabo Girão no frontispício da Sé catedral do Funchal é uma das suas referências históricas mais importantes. Contudo, segundo Celso Gomes e João Silva, na sua obra Pedra Natural do Arquipélago da Madeira como imóveis históricos onde a cantaria do Cabo Girão foi utilizada são referidos o convento de Santa Clara, o forte de São Tiago, o edifício da Câmara Municipal do Funchal, o museu da Quinta das Cruzes, o museu Frederico de Freitas, o Arquivo Regional, o museu de Arte Sacra, o palácio de São Lourenço, o palácio dos Cônsules, o palácio dos Ornelas, a capela do parque de Santa Catarina, a capela da Boa Viagem e a Torre do Capitão.

Para além da sua utilização na construção civil, o fabrico de fornos de cozer pão, utensílio antes indispensável em qualquer habitação, o fabrico de filtros, pias, etc. eram outras das aplicações da cantaria do Cabo Girão, que ainda hoje continua a ser extraída.

A 4 de Março de 1930, foram estas pedreiras responsabilizadas pela ocorrência de uma enorme quebrada que caindo sobre o mar, provocou uma grande movimentação das suas águas, movimentação essa desencadeadora de uma gigantesca onda que invadindo a praia do Vigário em Câmara de Lobos, ceifou a vida quase duas dezenas de pessoas. Dias antes do acidente, apercebendo-se da eminência desta tragédia, cerca de 40 operários que lá trabalhavam tinham entretanto abandonado o local.

Os acessos ao Cabo Girão
De acordo com o Diário da Madeira de 30 de Abril de 1913, a construção de uma estrada de turismo no Cabo Girão era já uma pretensão camaralobense. Segundo "O Jornal da Madeira" de 1 de Outubro de 1925 numa das suas últimas sessões a Junta Geral do Distrito havia deliberado mandar estudar um ramal da estrada nacional 23 ao Cabo Girão. Segundo escreve o Dr. Alexandre da Cunha Telo no Diário da Madeira de 23 de Outubro de 1926, a propósito do Cabo Girão é enorme o número de estrangeiros que costumam ali observar aquele panorama deslumbrante. É um ponto verdadeiramente de turismo. Para lamentar é que seja de difícil acesso, os pontos mais elevados da rocha. Acontece porém que a vereda que ali havia tem-se danificado.

Este tipo de lamentações expressas pelo Dr. Alexandre da Cunha Telo haveria de se prolongarem no tempo, uma vez que só a 14 de Setembro de 1937 foi adjudicada por José Miguel Gomes a construção do acesso a este promontório a partir da então estrada nacional 23, hoje estrada regional 214 e no seu trajecto dentro do concelho de Câmara de Lobos também denominada por estrada João Gonçalves Zarco.

As obras ter-se-ão iniciado pouco tempo depois uma vez que de acordo com o Diário de Noticias de 4 de Dezembro de 1937 as obras de abertura da estrada iam por esta altura já adiantadas. Em Agosto de 1938, segundo o Diário de Notícias do dia 23, os trabalhos de calcetamento da referida estrada já se encontravam quase concluídos pelo que dentro em breve poderiam os carros irem até à esplanada do Cabo Girão. A 2 de Outubro de 1938, o Diário da Madeira anunciava que as obras da auto-estrada do Cabo Girão, importante melhoramento de há anos reclamado e agora levado a efeito pela Delegação de Turismo da Madeira da presidência do Dr. João Abel de Freitas deveriam ficar concluídas no decurso desse mês.

A esse propósito a Delegação de Turismo da Madeira, em finais de Outubro de 1938 procede ao seu embelezamento com arborização apropriada.

Esta nova estrada de turismo, projectada pelo Eng. Severino Antunes, tinha uma extensão de 850 metros encontrando-se já calcetados 800 e o empedramento obedecia ao então moderno sistema de pedras regulares.

Em toda a sua extensão media 6 metros de largura com excepção de um largo a cerca de 50 metros do miradouro que teria 14 metros e se destinaria a estacionamento e para que os automóveis pudessem voltar. Nesta parte seriam colocados uns pilares para impedir a passagem de carros.

Posteriormente o Cabo Girão ficaria ligado à igreja da Quinta Grande através de um arruamento inaugurado a 14 de Setembro de 1991 e também à via rápida Funchal-Ribeira Brava. Ainda em termos de estradas, a comunicação entre o miradouro do Cabo Girão e o cume do Pico do Galo, onde se encontra implantada uma capela com a invocação de Nossa Senhora de Fátima poderá ser feita através de um arruamento aberto em 1969 pela RTP, numa faixa de terreno cedida pela paróquia da Quinta Grande, por forma a permitir o acesso a uma sua antena ali existente, servindo também simultaneamente o santuário.

Brevemente esta estrada, ainda em terra batida, será alvo de pavimentação encontrando-se a obra incorporada num projecto mais amplo e que envolverá não só este troço de estrada mas também a pavimentação de outro, aberto há alguns anos, e que desde as proximidades do miradouro do Cabo Girão vai ter ao sítio do Facho, já na freguesia de Câmara de Lobos e cuja adjudicação teve lugar a 18 de Setembro de 1997.

Miradouro do Cabo Girão

Projectada e iniciadas as obras da estrada, necessário se tornava dotar agora o local de um miradouro. Por esse facto a então Delegação de Turismo da Madeira, de acordo com o Diário da Madeira de 5 de Maio de 1938, solicita à Junta do Distrito colaboração na elaboração do respectivo projecto.

No dia 1 de Setembro de 1938, mediante concurso público realizado pela Delegação de Turismo da Madeira as respectivas obras são adjudicadas a António Maria Pereira. Segundo estava projectado, o miradouro cujos muros de suporte, no dizer do Diário da Madeira do dia 2 de Outubro de 1938 deveriam ter sido engalgados no dia anterior, teria uma forma de circunferência com 10 metros de diâmetro; no centro deveria haver um banco em forma circular com um diâmetro de 2,8 metros; a parede em volta no miradouro deveria ter 1,20 metros de altura e uma espessura de 40 cm parede.

Em finais de Outubro a Delegação de Turismo procede à plantação de trepadeiras por estar quase concluído o miradouro. No decurso de 1953 importantes obras são ali realizadas. De acordo com o Diário de Notícias de 1 de Fevereiro de 1953, o Ministério das Obras Públicas havia concedido à Delegação de Turismo da Madeira uma comparticipação de 17.600$00 para os melhoramentos no miradouro do Cabo Girão.

Guido Monterey na sua obra Câmara de Lobos refere que as obras do miradouro na configuração que ele apresenta actualmente ter-se-ão concluído só a 23 de Setembro de 1953, tendo os respectivos actos de medição ocorrido a 18 de Agosto e a vistoria geral a 8 de Outubro do mesmo ano.


in
Câmara de Lobos